Análise física i

Retirei uma escama
deitei-a à água.
Vi reflexos do que melhor ama
e o submergir de alguma mágoa.

A matéria que me compõe em nada difere daquela
de que são feitos os homens.
Tenho cabeça e vejo nela
restos da servidão de pajens.

Sobre mim
não há relíquias para dar a conhecer,
portanto deixo assim
um pouco daquele em quem quero adormecer

No ano em que nasci
vi definido o meu comprimento,
avisto agora o entorpecimento
da matéria que em duas décadas li

a debilidade do meu corpo
apodera-se a cada instante
de um modo tropo
não passo de um esterco ambulante.

Há contudo em mim
que reconhecer. de algum valor
sou criador, sim
mas para dar apenas amor.

Falto de cabelo
mas forte esse pouco.
Vejo um velho como o do Restelo
de cada vez que olho de cima.
O som que de mim sai é rouco
e não há quem por mim tenha estima.